“E disse o Senhor a Satanás: Observaste o meu servo Jó? Por que ninguém há na terra semelhante a ele, homem sincero e reto, temente a Deus, e desviando-se do mal, e que ainda retém a sua sinceridade, havendo-me tu incitado contra ele, para consumi-lo sem causa” (Jó 2:3).
Muitos têm perguntado o por quê de Deus ter permitido o sofrimento de Jó, consentindo que Satanás o acatasse tão duramente como o atacou. Lendo o verso acima, ficamos com a impressão de que Deus queria provar para Satanás que Jó permaneceria íntegro mesmo sem bens materiais e sem saúde, estando cheio de tumores malignos por todo o corpo. Essa é uma conclusão simplista e imediata que não contém a verdade absoluta dos fatos, pois se assim fosse, questionaríamos o amor de Deus pelo seu servo.
Mas, para mim, não é somente o amor de Deus que estaria em jogo: seu próprio caráter também. Sabemos que nosso Deus não é mesquinho e inseguro. Somente os tais, agem em função da necessidade de ter que provar para os outros as coisas…
Certamente você conhece alguém que vive querendo dar satisfação de tudo que acontece em sua vida para as outras pessoas. Alguém que vive com medo de ser mal interpretado. Você consegue imaginar o criador do universo agindo assim?
Ora, inevitavelmente o Senhor acabou provando para o Diabo a fidelidade de seu servo, porém ao lermos todo o livro, percebemos que Ele tinha em mente propósitos muito mais nobres do que provar para Satanás a fidelidade de Jó. Deus está acima de qualquer pressão e não tem que dar satisfação a ninguém, ainda mais para o principal acusador dos seus filhos (Ap 12.10).
Analisando ainda o verso acima, podemos ver com clareza que o Senhor reconheceu que Satanás o incitara para consumir Jó sem causa, no intuito de provar a fidelidade dele, porém Deus não agiu influenciado por essa provocação, pois se esse fosse o caso, por que Deus teria iniciado a conversa com Satanás? Não saberia Ele, de antemão, que Satanás o incitaria contra seu servo? Há algo mais a observar: no final da provação de Jó, não lemos que Deus “riu” do diabo, nem mesmo que lhe repreendeu, atestando a fidelidade de Jó.
Mas, por que então Deus permitiu a provação de Jó? Quais seriam os seus propósitos? Por que tanto sofrimento a uma pessoa que já era reta, sincera e temente a Deus? Se lermos cuidadosamente todo o livro, principalmente os dois discurso de Deus (Jó 38:1 a 40:2 e Jó 40:6 a 41:34) e as duas respostas de Jó a estes discursos (Jó 40:3-5 e Jó 42:1-6), ficaremos conscientes das respostas a essas perguntas.
Resumidamente, podemos dizer que Deus queria ensinar sabedoria a Jó e se revelar a ele mais intimamente. Podemos também perceber que o Senhor queria nos deixar a lição de que nas provações da vida é possível buscá-lo e receber dele forças para superar todo mal, bastando confiarmos em sua soberania, e reconhecermos que não temos justiça própria; somente Ele é a justiça verdadeira. Jó reconheceu isto dizendo: “Eu te conhecia só de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vêem, por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42:5,6). Portanto, penso que Deus “usou” Satanás para provocar toda aquela conjuntura de sofrimentos, tendo em vista propósitos que o diabo sequer podia imaginar. E no final (…) temos um Jó restaurado, cheio do conhecimento de Deus e de sabedoria divina. Novamente a soberania do Senhor triunfou. Amém!
Celso Melo
Ipatinga / MG
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