A luta espiritual dentro do coração humano é intensa, não fornece descanso, e faz a alma ter suas dores… Há momentos em que o conflito carne x espírito se intensifica grandemente. Assim, a angústia que dele decorre parece fazer a alma explodir… ou mesmo implodir em gemidos inexprimíveis, conforme dados pelo Espírito que nos assiste em nossa des(venturada) fraqueza. Na tentativa de pacificar o coração, a mente trabalha na busca de explicações que visam justificar o caos doloroso que se instaurou dentro do ser. Todavia, quando se descobre que a angústia é decorrente de erros cometidos, ela aumenta. E se para os erros, a alma não vê corretivo, sua angústia se intensifica como nunca, a ponto de alguns desesperançarem-se completamente desta vida e vislumbrarem o suicídio numa espécie de namoro platônico com a morte… Eis aí, descrito em poucas palavras, o que chamo de crise existencial de uma alma em fortíssimo estado de luta espiritual.
Se a alma é infinita naquilo que cobiça, conforme opinou Ben Johnson (corredor americano), infinita também parece ser em sua angústia, quando descobre que ela emana de erros para os quais ela não vê correção. Às vezes, essa é a visão existencial na qual a alma se descobre. Tentar resolver o que fere o coração faz titubear a alma que não sabe o que encontrará a seguir. Junto com a angústia de erros cometidos, vem a angústia de desejos vindos de várias procedências:
- Desejos antes recalcados e que agora afloram claramente na consciência.
- Não-desejos do passado que agora são desejos assumidos.
- Desejos de outrora que agora são desejos-inversos.
Não se preocupe se você não conseguiu entender as distinções acima. Não quero confundi-lo. O que importa, caso as linhas acima descrevam seu estado, é saber que pode haver no seu coração, desejos no centro de sua crise, e que estão fazendo sua luta espiritual se agigantar. Salomão escreveu: “A esperança demorada enfraquece o coração, mas o desejo realizado é árvore de vida” Provérbios 13.12. Nesse vai e vem de desejos, o coração não sabe onde vai parar. O que se espera é que ele venha encontrar um porto seguro, nele venha se atracar, longe das voragens deste mar, e que não saia deste lugar-habitação, pois ali estará o seu tesouro.
Esta é uma das bênçãos que acompanham a salvação, a saber a pacificação do coração. Quando falamos em salvação, alguns visualizam apenas o perdão dos pecados e o livramento da condenação do inferno, todavia a Palavra de Deus nos assegura que Jesus “alcançou ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas” Hebreus 8.6. O escritor está aqui traçando um paralelo entre a antiga e a nova aliança. Nessa nova dispensação, nós temos melhores promessas. A salvação, portanto, está carregada de vários ganhos, não somente perdão e livramento. A salvação traz paz para a alma cansada.
Creio que nem todos alcançam esse nível de pacificação em Cristo, afinal, visamos muito mais um Deus operacional do que um Deus relacional. O Deus operacional frequentemente é visitado por nós em orações ansiosas, carregadas de pedidos para uma intervenção imediata. Já o Deus relacional é visitado por poucos. Somente adoradores e servos que fazem da gratidão um estilo de vida visitam o Deus relacional com considerável frequência. Ousaria dizer: diariamente. Não é sem razão que esses são os tais que Deus procura (Jo 4.21). Bom, o que importa para nós em tempos de luta espiritual, é considerarmos a nossa relação com Deus como arma de guerra. Somente na relação com Ele nosso coração pode ser pacificado quando a angústia vem, quer de agentes externos, quer de conflitos interiores, principalmente quando perdoar a si mesmo é condição para seguir em frente.
Celso Melo
Ipatinga / MG
Deixe um comentário