
O texto abaixo é uma resposta a um comentário que recebi de uma leitora. Depois de ter lido o texto “Pacificando pré e pós-tribulacionistas”, ela escreveu:
“E o que dizer de Apocalipse 20? Que fala que a primeira ressurreição será apenas dos fiéis que passaram pela grande tribulação? No arrebatamento, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, depois nós que ficarmos vivos seremos arrebatados. Sendo assim, não é lógico pensar que o arrebatamento só pode acontecer após a grande tribulação, visto que a primeira ressurreição só será depois dela? “
Paz minha irmã,
Que a graça do nosso bondoso Deus a acompanhe por toda sua vida!
Primeiramente, desculpe pela demora em responder. Fazer a obra e ainda estar envolvido com o trabalho natural, não é fácil. Mas, em tudo seja louvado, nosso Senhor!
Sua pergunta é muito pertinente. Resumir uma resposta aceitável é um desafio, mas me dispus a escrever algumas linhas sobre o assunto.
Sobre o que vem primeiro: arrebatamento ou grande tribulação parece ser o segundo maior ponto de conflito doutrinário entre os evangélicos, somente perdendo para a questão das línguas. Nesse texto (Pacificando pré e pós-tribulacionistas) meu objetivo foi mostrar que o mais importante é estar preparado para o advento do arrebatamento, independente da sua linha temporal. E com isso, viver em paz com quem pensa diferente. Talvez no meu texto (Escatologia, heresias e amor cristão) eu tenha sido mais claro em explicar essa necessidade de harmonia entre esses dois posicionamentos.
Eu particularmente, creio que o Senhor arrebatará sua igreja antes da ira de Deus sobre a terra. Muitos fantasiam o período da grande tribulação, como se fosse possível sobreviver em “bolhas de proteção”, mas eu não me iludo. O período será terrível. E a Palavra fala claramente que Deus nos virará deste tempo de ira. As passagens que falam sobre esse livramento são diversas, em especial 1Ts 5.9.
Lendo o que você escreveu, vemos como tudo está perfeitamente colocado; e de fato é lógico pensar de sua forma. É tão lógico como um silogismo grego. Exemplo:
1.Premissa maior: todos os homens são mortais.
2.Premissa menor: eu sou homem.
3.Conclusão: portanto, eu sou mortal.
Assim, a lógica seria (mais ou menos) da forma abaixo:
1. Premissa maior: no arrebatamento, os mortos em Cristo, ressuscitarão primeiro.
2. Premissa menor: é na grande tribulação que teremos os “mortos em Cristo”.
3. Conclusão: portanto, o arrebatamento ocorrerá somente após a grande tribulação.
Dito isso, direi agora o que penso sobre Ap 20. Penso que precisamos de revelação, indo, portanto, além da lógica. Veja abaixo as características daqueles que participarão da ressurreição descrita nos versos 4 e 5 de Apocalipse 20:
1. Degolados pelo testemunho de Jesus…
2. Não adoraram a besta nem a sua imagem.
3. Não receberam o sinal da besta.
Note que não sobra espaço no conjunto dessas características para nenhum crente ao longo da história que, embora tenha sido fiel ao Senhor, não foi degolado, ou seja, não tenha sido mártir. A conclusão (a que chego) é que esse verso narra uma ressurreição específica de salvos, ou seja, somente dos mártires da Grande Tribulação. Não engloba toda a amplitude da primeira ressurreição. A meu ver, a mesma conclusão se aplica para Ap 7.14, onde fala sobre aqueles que vieram de grande tribulação.
A primeira ressurreição é para vida eterna. A segunda, é para o juízo final e para a consumação da morte eterna (segunda morte). A primeira ressurreição me parece ser perfeitamente tipificada nas colheitas que aconteciam em Israel. Eles tinham as primícias, a colheita maior (a grande colheita) e aquela que é chamada a colheita do restolho (o resto das “espigas” que ficaram para trás – nos cantos dos campos.
A colheita do restolho era a última que acontecia. Pode ser encontrada em texto, como Levítico 23.22: “E, quando fizerdes a colheita da vossa terra, não acabarás de colher os cantos do teu campo, nem colherás as espigas caídas da tua sega; deixá-las-ás para o pobre e para o estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus”. Já sobre a relação entre a ressurreição e a colheita das primícias, Paulo é claro: Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem. Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem. Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda” (1 Coríntios 15:20-23).
Paulo usa essa imagem agrícola, familiar aos judeus, para mostrar que a ressurreição de Cristo não foi um evento isolado, mas o início de algo maior. Assim como a colheita principal seguia depois das primícias, nós também seremos ressuscitados (no arrebatamento). Mas, é preciso entender que primícias, colheita geral e restolho, tudo faz parte da colheita. Semelhantemente, a primeira ressurreição também tem sua segmentação, sendo o arrebatamento equiparado à colheita geral (aquela que é a maior). Já, os mártires de Ap 20.4, uma espécie de tipificação da colheita do restolho. Quanto à ressurreição “das primícias”, ela já aconteceu com Cristo e aqueles que ressuscitaram imediatamente após sua ressurreição, conforme Mt 27. 53.
Bom, espero ter ajudado. Lembro que o mais importante é amarmos a sua vinda (2Tm 4.8).
Fique na Paz,
Celso Melo
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