Há tempos tenho procurado correlacionar estes três verbos na vida cristã: ser, fazer e ter. O ter refere-se ao tesouro maior que podemos alcançar, a saber a pérola de grande valor, pela qual despoja-se de tudo que se tem para conquistá-la. Já o “ser”, refere-se à influência desse tesouro na nossa natureza, nosso caráter e quem verdadeiramente somos. Pensemos a respeito: se Jesus ressuscitou dentre os mortos; e se ele está presente em nossas vidas (como afirmamos crer), estaria presente de que forma? Seria sua presença apenas simbólica e ‘decorativa’? Não seria esperado dessa presença – influência e poder no nosso ser – de forma a mudar-nos para melhor? Se digo que Cristo é o meu Senhor, mas ano após ano permaneço o mesmo, não havendo crescimento algum, mudança qualquer em meu ser, devo urgentemente avaliar se o tenho como meu Deus…
A presença de Cristo nos foi dada para que não “sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.14-15). Note o verbo crescer. É preciso crescer em tudo. Se não há crescimento, não há vida. Se não há vida, Cristo não está presente. Mas se Ele for o nosso Deus, haverá crescimento e nosso ser será transformado. Depois disso, maravilhosamente passaremos a conjugar o verbo fazer: faremos as obras de Deus. “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
João, o discípulo amado nos diz que “aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou” (1João 2.6). E como Cristo andou? Leiamos: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (Atos 10.38). Gosto do verbo andar em conexão com o verbo fazer. O fazer somente acontece no andar, e o andar só é verdadeiro se for realizado no caminho, que é o próprio Cristo. Se Jesus é o nosso Mestre, e se Ele transformou o nosso ser, nós andaremos como Ele andou; e sabemos que Ele andou fazendo o bem primeiramente.
A sequência registrada por Lucas é muito importante. Antes de escrever que Jesus fez curas e promoveu a libertação dos oprimidos, ele disse que Jesus andou fazendo o bem. Dessa forma o que é esperado do nosso fazer é que ele seja traduzido como bem. O bem que não procura o próprio interesse, mas sim o que é dos outros, e que é alicerçado no amor. Fazer as obras de Deus, expressando sua presença em nós, e revelando que Ele é o nosso Deus, não é simplesmente uma questão de expressão de dons, como curas, pregações e milagres, mas prioritariamente a expressão do bem que podemos fazer, e que nos foi dado por Ele como talentos a negociar durante os dias de nossa peregrinação nesta terra.
A expressão deste bem vai desde a simples manifestação de bondade ao próximo – como um copo d’água dado a quem tem sede – e se estende a qualquer ato mais notório e extraordinário, como ser canal de uma cura por meio de uma oração oferecida. Nestes dias de espetáculo da fé, onde muitos buscam e exibem sinais, as reais e simples expressões do bem não atraem tanto. Todavia, se você encontrou o grande e inegociável tesouro que é Jesus, se tem recebido a transformação dele em seu ser, procure a cada dia, fazer o que Ele te inspirar a fazer por mais simples e inexpressivo que possa parecer aos homens. Para aquele que tudo vê, e que galardoará a cada um, segundo as suas obras, não existem atos expressivos ou inexpressivos, atos grandiosos ou atos pequenos; apenas existem atos que expressam o bem ou o mal. “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2 Co 5.10). Amém!
Celso Melo
Ipatinga / MG
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