Muitas pessoas quando abraçam a fé em Jesus chegam totalmente arrasadas. Não possuem nenhuma autoestima positiva considerável. A autoconfiança também está fragilizada; enfim, vidas destruídas ou quase lá. Este é um cenário típico, embora não se possa generalizar. Além disso, é comum que vidas que anteriormente não acreditavam e não se rendiam a Deus passem por desconforto ao perceber que a entrega a Cristo significa a renúncia do comando de suas vidas no sentido da renúncia que o Evangelho propõe.
Todavia, a realidade acima não implica na perda da subjetividade. Se aceitar a Cristo implicasse na perda da subjetividade nosso caminho da individuação em Cristo estaria perdido. Nem mesmo haveria a necessidade de galardões individuais. Na verdade, a própria adoração a Deus, como sendo um ato espontâneo feito em Espírito e Verdade, estaria comprometida.
A consideração que faço quanto a preservação da subjetividade desses indivíduos é para que seja enfatizado o fato de que a transformação e restauração de Cristo também incluem o resgate da autoestima e autoconfiança. Assim, digo: crente também deve e pode ter autoestima!
Parece incrível ter que afirmar isso, mas quem pesquisa sabe que há uma corrente no seio da igreja que faz uma apologia contra a autoestima do cristão. Julgam que o homem não deve atentar para a autoestima, pois ela pode gerar nele orgulho, prepotência, presunção vaidosa, etc. Assim, combatem qualquer amor-próprio. Pensam que a renúncia a qual Jesus nos convida passa pelo caminho do desprezo próprio e desconsideração completa quanto aos desejos e sonhos que se possa ter. Os tais esquecem versos como: “Deleita-te também no SENHOR, e ele te concederá o que deseja o teu coração” (Sl 37.4). Talvez seja porque não sabem que frequentemente o próprio Deus nos visita, colocando seus desejos em nós, de forma que eles podem perfeitamente refletir a vontade de Deus.
Se esses novos crentes, após terem tido um encontro com Deus, forem congregar numa igreja que tem uma visão equivocada da autoestima, a saúde emocional deles pode até piorar, pois o discurso é sempre no sentido de dizer (ainda que indiretamente) que “para ser de Deus” tem que ser feio, pobre e humilde. Humilde no sentido de ser alguém simples e desprovido de conhecimento. Ser alguém com erudição vasta não serve. Quantas vezes eu mesmo ouvi e vi discursos contra a “vaidade” das irmãs e contra a teologia dos que se dedicaram para aprender mais da Bíblia.
Refletindo em tudo isso, fico a pensar sobre o mandamento de “amar o próximo como a si mesmo” (Mt 22. 39). Não é preciso um grande entendimento para perceber que tudo começa em nós. Somente podemos dar o que temos. Se alguém não se ama, como amará seu semelhante? Contudo, o Senhor mostra ao homem toda a sua potencialidade, haja vista ter Ele mesmo colocado dentro do homem um conjunto de potencial para gerar nele propósito na vida, e por fim, para que através do cumprimento desse propósito, o próprio Deus viesse a ser glorificado. Quem consegue perceber esse tesouro do potencial de Deus colocado nele não deixará sua autoestima no lixo.
A grande peculiaridade da autoestima do cristão está no fato de que, para nós, ela é resultado da convicção de que fomos aceitos e perdoados por Deus. Quando se crê que o único que tinha poder para julgar, resolveu abraçar e acolher, não há como não encher o coração de alegria e sentir-se bem diante da vida e das pessoas.
Celso Melo
Ipatinga / MG
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