A pérola de grande valor

Tempo de leitura: 5 min

Escrito por Celso Melo


“E encontrando uma pérola de grande valor,
foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a”  (Mt 13.46).

O ser humano é um ser em constante busca. Busca a paz, o equilíbrio, o prazer, a felicidade, o sucesso, a realização profissional, pessoal e muito mais… Busca até o que não consegue definir e claramente expressar (At 17.23)… Jesus ilustrou a busca do ser humano na parábola do colecionador de boas pérolas. O homem da parábola buscava boas pérolas, e aqui há algo que transcende a necessidade. Não se tratava simplesmente de buscar para vender e sobreviver. A busca deste homem era sua paixão. Seu estilo de vida se encontrava no caminho do desejo pela busca. E esta busca se perpetuava, sendo consumida pela voragem do seu coração insaciável, até que algo surpreendente lhe aconteceu. Ele encontrou uma pérola que excedia a grandeza e o valor de todas que já tinha encontrado em sua vida de colecionador. Finalmente encontrou a pérola de grande valor – seu porto seguro. Atracou o seu coração nesta pérola, e dela não largou. Não continuou insaciável em sua busca sem fim, mas vendeu tudo que tinha e comprou a pérola encontrada.

Semelhantemente assim se dá com todo aquele que encontra com Jesus. Ele é a pérola de grande valor. Ele faz todas as outras buscas serem preteridas pelo encontro consigo. Faz a alma atracar-se nEle – porto desejado, lugar-habitação, que também se torna torre forte e esconderijo. Agora a alma não sente saudades do que “não conhece”; e ainda que venha se balançar pelos vergalhões de ondas próximas e violentas, não se abalará, nem mais se deixará levar por sequestros de desejos ilusórios de felicidade. O vai-e-vem de desejos pára em Jesus. Ainda que, por um momento, ela seja seduzida pelas tentações, saberá que nada se compara com a sublimidade do conhecimento e amor de Cristo.

Se você já experimentou o angustiar da alma e do coração; se para essa luta já deu o nome de depressão, crise existencial, solidão ou outro qualquer, saiba que a revelação do conhecimento e amor sublimes de Cristo pode ser o grande divisor e marco de sua vida.

A maravilha da salvação em Jesus está no fato de que ela acontece em um nível pessoal. Deus não salva um grupo à semelhança de um pescador que lança sua rede e recolhe simultaneamente uma multidão de peixes. A salvação é a ação de Deus revelar a grandeza de seu amor e graça a um ser humano, aliada à resposta desse, a esta mesma graça e amor, com gratidão, reconhecimento e temor. Estabelece-se no ato da salvação o relacionamento entre o ser em perdição e o ser capaz de salvar. Isto se dá em um nível único, fazendo com que a história da salvação tenha tantas narrativas e caminhos quantos forem os seres salvos.

Jesus a pérola de grande valorMas, é preciso perseverança. Depois de ter encontrado a pérola de grande valor, o inimigo que antes fazia a alma ser agitada pelas ondas violentas no mar do vai-e-vem dos desejos, agora tenta de todas as formas extinguir o prazer da alma por esta pérola encontrada. Quando isto acontece, a experiência judaica se repete em nossos dias. Diante das provações e dificuldades do deserto, eles diziam: “Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” (Nm 11:5). O inimigo é especialista em fazer-nos lembrar e sentir saudades do passado. Quando nos deixamos levar, o desfrute pela pérola é desprezado. É por isso que devemos tomar cuidado com nossas lembranças. Sobretudo façamos como Jeremias: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3.21). Semelhantemente, Paulo nos exorta: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fl 4.8).

A bíblia é cheia de orientações, exortações e insistentes apelos no sentido de não deixarmos esfriar nosso amor pela pérola de grande valor que é Jesus. Precisamos ter somente nela nosso real desejo. Tudo o mais é negociável, menos ela. Talvez a palavra mais chamativa quanto a estes apelos da escritura foi escrita pelo sábio Salomão, que em clara inspiração divina escreveu: “Sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios 4:23). Sempre gostei de ler este verso tendo como início o verso 20 que começa dizendo: “Filho meu…” Apesar de sabermos que a Bíblia toda é de procedência divina, às vezes penso que muitos de nós não a lermos com tal consciência. É preciso lê-la com o coração aberto, sabendo que Deus está falando conosco. Assim, ouça Deus: “Filho meu, sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Portanto, quem encontrou a pérola de grande valor, deve tomar cuidado; e que guarde-a dentro do seu coração e que tranque bem a porta dele, pois se outro desejo sedutor lhe penetrar o ser, e lhe seduzir a vontade, automaticamente as fontes da vida desta pessoa não convergirão para Cristo, nossa fonte maior de águas vivas. O coração logo logo ver-se-á sedento novamente. Às vezes, em uma intensidade incomparavelmente maior.

Outra razão para guardarmos o nosso coração está no fato de que a vontade e propósito de Deus para nossa vida passa pelo ato de Deus plantar em nós esse propósito e vontade pela via do desejo do nosso próprio coração. Se o Senhor não agisse assim, Ele não endossaria as palavras do salmista que escreveu: “Agrada-te do SENHOR, e ele satisfará os desejos do teu coração” (Salmos 37.4). Se Ele não plantasse em nós desejos de sua vontade, obedecê-lo seria um grande peso, e frequentemente fugiríamos de sua vontade, como fez Jonas. Também, se Ele não plantasse sua vontade em nós pelos desejos que faz brotar em nossos corações na comunhão com Ele; e se simplesmente satisfizesse os desejos de nosso próprio coração, imagine em que situação ficaríamos? Quantos desejos estranhos, literalmente maus, não temos? Lembro-me das palavras de Tiago: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tg 4.3).

Agora, sabendo de tudo isso, resta dizer que haverá momentos nos quais a vontade e propósito de Senhor  não passarão pela via de nossas emoções e desejos. O que fazer nesses momentos? O próprio Jesus nos deu o exemplo quando estava diante de sua paixão, calvário e cruz: “Pai, todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres”. Ele se sujeitou ao plano de Deus para si, aprendendo obediência pela via da renúncia. Passando por situações semelhantes, seremos igualmente convidados à renúncia de nossa própria vontade. Todavia, se assim o fizemos, quando tudo se findar, olharemos para trás ─ à semelhança de Jesus ─ e veremos o fruto do penoso trabalho de nossa alma e ficaremos satisfeito (Ler Is 53.11). Amém!

Celso Melo
Ipatinga / MG

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