Embora saibamos que a vida seja única em seus acontecimentos, bons ou ruins, costumeiramente desejamos a repetição de tudo aquilo que experimentamos de bom e aprazível ao longo do caminho. Se pudéssemos manobrar as circunstâncias, certamente muitos reviveriam sua coleção de “flash back” particular. Ao pensar na obviedade de privilegiar um comportamento ou acontecimento pelas consequências e resultados trazidos, fico a pensar também na cruz de Cristo. Além do sofrimento pelo qual Jesus passou, ele sofreu sabendo de sua condição de inocência, e sabia também que sobre ele estava o peso dos pecados de toda a humanidade. O peso portanto era imensurável. A justiça exigida por Deus era a morte, e morte de cruz. Somente com esta visão é que conseguimos entender o porquê dele ter dito: “A minha alma está cheia de tristeza até a morte” (Mt 26.28).
A cruz foi terrível. Quando pensamos na sequência: Getsêmani, sofrimento, cruz, morte, ressurreição, túmulo vazio e por fim, vitória, certamente a cruz faz sentido como algo integrante de todo esse caminho que culminou na nossa salvação. Foi um “mal” necessário que redundou em um bem misericordioso que não merecíamos. Isto é graça! Esta é a salvação que nos vêm pela fé!
Na vida, há coisas boas e ruins que se repetem, embora não com a mesma roupagem. Todavia, há fatos que se qualificam com únicos, sem qualquer chance de similaridade. Na história da humanidade a cruz é um desses fatos. Jamais haverá calvário outra vez; e isto, não por ter sido ruim ou bom, mas porque foi algo perfeito, sublime, sem necessidade de um aperfeiçoamento progressivo pela via da repetição. Por cinco vezes o escritor aos hebreus menciona a morte de cruz como algo cabal, terminante, sem necessidade de repetição. Vejamos atentamente cada uma delas:
- “Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu” Hb 7.27.
- “Nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” Hb 9.12.
- “De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos se manifestou uma vez por todas para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” Hb 9.26.
- “Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação” Hb 9.28.
- “Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez por todas” Hb 10.10.
Gosto da expressão ‘uma vez por todas’. Ela traz fielmente a singularidade e unicidade da morte de Jesus. O escritor aos hebreus fez questão de enfatizar tal realidade porque nela está o ponto crucial que distingue o sacrifício de Jesus dos sacrifícios levíticos do velho testamento, nos quais os judeus ainda se estribavam, confiando na expiação por eles. O escritor mostra a diferença e superioridade do sacrifício de Jesus. O ponto central é: Aqueles se repetiam todos os dias sobre o altar no qual o fogo jamais deveria se apagar (Lv 6.13), e o sumo sacerdote ano após ano, entrava no santo dos santos no dia da expiação. Com isto, Deus aceitava e perdoava o povo, embora não houvesse transformação de vida, nem a eliminação da culpa das consciências. O sacrifício de Cristo, ao contrário daqueles, por ter sido perfeito, satisfez a justiça divina. Agora, Deus pelo sacrifício de Jesus, não somente perdoa, mas por Ele o problema da culpa é tratado.
Já ouvi diversas vezes pessoas dizerem que o mundo é tão ingrato que se Jesus viesse novamente, outra vez seria crucificado. Eu entendo e admito que o mundo é ingrato, as pessoas são ingratas, mas é preciso entender que é impossível uma outra morte, um outro sacrifício. Jamais Jesus precisará dar sua vida novamente, pois o que fez no calvário foi perfeito, não precisa de repetição, aperfeiçoamento algum. Crês tu que a obra a seu favor já está completa? Se você crê que a obra dele já está completa e não precisa de aperfeiçoamento, a consequência desta compreensão é óbvia, ou seja, não há nada que você possa fazer para melhorá-la, como se ela necessitasse de uma ação sua para completar sua eficácia. Ela não precisa das nossas justiças próprias. Bom, isto é tema de outra conversa. Por ora, creia na suficiência do sacrifício dele e descanse no que Ele fez. Amém!
Celso Melo
Ipatinga / MG
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