Lendo os evangelhos percebe-se claramente que a maioria dos grandes entraves e debates de Jesus não foi contra o sistema político romano ou a resistência dos pecadores, mas sim contra a própria religião judaica, encabeçada pela presença dos fariseus, saduceus e rabinos.
Fariseu se tornou hoje símbolo de hipocrisia, pois mancharam a si mesmos pela hipocrisia e falsidade. Mas, como funciona este mecanismo da hipocrisia? O que a caracteriza, e quais são suas evidências? Para responder essas perguntas é preciso estudar a vida, as atitudes e o comportamento dos fariseus. Quanto a isso, os evangelhos são ricos em passagens nas quais Jesus aponta para o perigo do fermento da hipocrisia dos fariseus. Vejamos alguns:
“Então, falou Jesus à multidão e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés, estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não praticam” (Mateus 23.1-3).
Aqui reside uma das principais evidências: a falta de integridade – a fala e o comportamento não estão alinhados. Alguém já disse: “o que você faz me soa tão alto que não consigo ouvir o que você me diz”. Tem-se que tomar cuidado. Há tempos que deixei de pensar na pregação feita em púlpitos como sendo a forma mais eficaz de se pregar o evangelho.
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“Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar,e os põem sobre os ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los” (Mateus 23.4).
A hipocrisia dos fariseus e a moderna se igualam no deleite em proferir normas de conduta, sem sequer oferecer ajuda. Não há compaixão, senão execução da pena aos transgressores; quer pela exacerbação da culpa ou exclusão dos que erram.
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“E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo:
Este recebe pecadores e come com eles” (Lucas 15.2).
Amo essa atitude de Jesus. Com os pecadores ele se identificava, interagia e manifestava o seu amor. Os hipócritas de hoje não são diferentes dos fariseus. Por se considerarem mais santos, eles não se misturam, esquecendo, todavia, que tal exclusivismo e orgulho os tornam repugnantes aos olhos de Deus.
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“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso, sofrereis mais rigoroso juízo” (Mateus 23.14).
Os fariseus faziam da fé um produto comerciável. Essa prática farisaica nas igrejas modernas é tão alarmante que dispensa comentários que a comprovem. Os líderes que praticam o comércio da fé e quem se deixa submeter por esse comércio estão fazendo barganha com Deus, e igualmente desprezando a Graça divina.
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“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniquidade” (Mateus 23.25).
Os fariseus desprezavam a dimensão interior tanto do pecado como da presença de Deus. O Deus da coluna de fogo e nuvem estava sempre aos olhos dos hebreus no deserto. Bastava um olhar dirigido “para fora” e para cima. Com Jesus tudo mudou: agora o referencial do pecado como da própria presença de Deus está dentro… não fora. Mas os fariseus e hipócritas modernos são lentos para aprender. Não é à toa que o investimento nas mudanças deles começam de fora para dentro.
Afirmar que me relaciona com Deus, não encontrando nele alegria, é confirmar e sustentar a própria hipocrisia. É sobretudo, permanecer na mornidão espiritual, sendo apenas um ridículo religioso. Devemos lembrar que Cristo prefere o frio ao morno. É preferível que eu diga que tenho tido ídolos e que não tenho encontrado o caminho da satisfação em Deus do que dizer da boca para fora que Jesus é o meu Deus, afinal Ele sonda os corações, e conhece as “verdades-mentiras” que se possa sustentar. Mas, os que conhecem verdadeiramente a Jesus, e têm nele o seu prazer, tudo discernem. Deus conhece os que nele confiam. Ele sonda os corações e sabe em quais deles há apenas a imposição do dever religioso.
O hipócrita diz ser uma coisa que ele não é. Não se pode validar e dizer que as pessoas são aquilo que dizem ser. Elas são aquilo que realmente são. E isto porque, frequentemente, o que dizem está mais no imaginário delas do que na realidade de suas vidas. Pensando nisso, oro a Deus para que na minha caminhada cristã Ele nunca deixe que a hipocrisia faça parte. Que você, amado leitor, faça o mesmo.
Celso Melo
Ipatinga / MG
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