“Aquele que leva a preciosa semente,
andando e chorando,
voltará sem dúvida com alegria,
trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126.6).
Milagre é um tema comum quando o assunto é fé e Deus. A maioria das religiões falam em milagres, e são somente falam, como também buscam milagres. Outras, fazem deles elementos de um marketing de convencimento no intuito de aliciarem membros para si. Interessante e sintomático, no entanto, é perceber que quando o assunto dos milagres é esmiuçado, o foco nas exterioridades é evidente, de modo que o milagre da cura da doença terminal, do paralítico, do coxo, do surdo, e também o milagre do ex-mendingo ou pobretão que se tornou abastado, são narrados com grande vigor.
Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre, e certamente continua a realizar tais milagres, todavia quero falar sobre um milagre que anda no underground da publicidade da fé, pelo menos quando acontece com aqueles que não são considerados estrelas da sociedade. Refiro-me à regeneração do ser humano, comumente chamada também de conversão. Aqui está o maior milagre que pode ocorrer na face da terra.
O homem pode transformar mil coisas, mas a transformação do coração só Deus pode fazer. Jesus disse que isto é como o nascer de novo (Jo 3.7). O nascimento de uma vida é algo complexo e por demais extraordinário. Um verdadeiro milagre! Amor, tempo de gestação, crescimento intrauterino, ansiedade, dores de parto, paciência, são partes desta complexidade milagrosa.
Semelhantemente, a regeneração, digo, o novo nascimento, como mencionou Jesus a Nicodemos, é algo um tanto misterioso e todas aquelas partes estão envolvidas. É por isso que Paulo, em si tratando de ganhar almas para Cristo, usava frequentemente a palavra gerar para expressar em suas cartas o sofrimento que teve para ganhar algumas vidas. Vejamos dois exemplos:
“Porque ainda que tivésseis dez mil preceptores em Cristo, não teríeis contudo muitos pais; porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo” (1Co 4.15).
“Peço-te pelo meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões” (Fm 1.10).
O sofrimento real e também necessário na salvação de almas era tanto na vida de Paulo que ele usou uma expressão fortíssima aos gálatas: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4.19). A linguagem figurada de dores de parto nos introduz à realidade das intercessões, por vezes com lágrimas, súplicas, jejuns e clamores ardentes pelos perdidos. Acabamos de ler o exemplo de Paulo, mas o verbo gerar é tão fascinante para descrever o processo de conversão que não ficou simplesmente na pena do apóstolo Paulo. Pedro também expressou: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre” (1Pe 1.23).
Por fim, João, o discípulo amado, também utilizou-se do verbo gerar: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido” (1Jo 5.1). Notem como ele usa o verbo nascer e gerar de forma intercambiada, denotando perfeitamente a relação direta entre estas palavras.
Ganhar almas não é uma tarefa fácil. Aqueles que pensam que ganharão almas sem empenho ou sofrimento estão redondamente enganados. Interceder constantemente, jejuar, derramar lágrimas, se quebrantar diante de Deus e persistir em pregar com paixão e fervor. Estas e outras situações passarão aqueles que querem gerar almas para Cristo.
Jesus nos gerou para Deus por meio de sua morte e ressurreição. Como podemos esperar gerar vidas sem que haja sofrimento e empenho da nossa parte? Orações intermitentes, sem quebrantamento, sem ardor e paixão, bem como pregações frias e sem conteúdo jamais gerarão vida. A razão básica das poucas conversões em muitos lugares é o fato de Deus não encontrar vasos que possam pagar este tipo de preço a favor dos perdidos. Deus procura intercessores dispostos a entrar no combate da oração, conforme podemos lemos em Ezequiel 22.30: “E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei.” Bem disse o salmista Davi: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará sem dúvida com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126.6).
Querido leitor, você quer trazer consigo os seus molhos? É certo que você os trará com alegria, mas antes sua própria vida deverá ser derramada perante o altar do Senhor.
Celso Melo
Ipatinga / MG
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