O dia dos pequenos começos

Tempo de leitura: 6 min

Escrito por Celso Melo


“Porque quem despreza o dia dos pequenos começos?
Pois esse se alegrará, vendo o prumo na mão de Zorobabel” (Zc 4.10).

Você é daqueles que somente acreditam que as coisas darão certo se tiverem um começo estrondoso à semelhança de um piloto de fórmula um que estando na “pole position”, logo na largada parte a todo pavor rumo à vitória? Se este é o seu pensamento, eu quero levá-lo a refletir comigo no dia dos pequenos começos.

Iniciemos pela história de Israel. Vou te contar um pouco da história deste povo maravilhoso. Sabemos que tudo começou com Abraão, mas a formação da nação se consolidou mesmo foi com os descendentes dos filhos de Jacó, neto de Abraão, quando estavam no Egito. Contudo, no Egito o povo judeu era escravo. Assim, Deus enviou Moisés e veio a grande libertação. Quando entraram em Canaã, a nação foi governada pelos juízes. Depois, desejaram um rei à semelhança dos povos ao redor e pouco a pouco, eles foram se desviando da lei do Senhor. Como consequência, Deus os disciplinou permitindo que eles fossem levados cativos para o reino da Babilônia.

O cenário que serve de palco para as palavras de Zacarias nos remete ao contexto histórico pós-exílio, quando o povo de Israel já havia regressado da Babilônia depois de 70 anos de cativeiro, ainda estando possuídos por um sentimento de fraqueza e abatimento moral terríveis. Uma das razões para este quadro era o quebrantamento advindo da destruição do orgulho nacional dos judeus, a saber o templo em Jerusalém. Os tesouros do templo haviam sido tirados e como a adoração, o culto e a devoção a Deus estavam diretamente ligados ao templo, era como se Deus não estivesse presente, e sem Deus presente o povo sentia-se desprotegido e com um sentimento pior, a saber a sensação de descaso e abandono divino, afinal o templo estava destruído; os muros também.

No meio de todo este cenário de desgraça e desolação, Deus levantou homens valorosos para encorajar o povo a lançar mãos à obra para reconstruir o templo. Entre estes homens estavam os profetas Ageu e Zacarias. Entre todas as revelações que Deus trouxe a eles, especialmente a Zacarias,  temos uma recomendação importantíssima, válida para qualquer grupo de trabalho ou uma única pessoa diante de uma obra a ser feita, sonho a ser buscado, meta a ser alcançada e alvo a ser atingido. Deus disse: “Porque quem despreza o dia dos humildes começos? Pois esse se alegrará vendo o prumo na mão de Zorobabel…”

Temos nas palavras acima uma afirmação e uma recomendação. Primeiro, há pessoas que ignoram e desprezam o dia dos humildes começos. Em segundo lugar, isto não deveria ser feito, pois os tais sempre serão surpreendidos se os humildes começos nascerem em Deus. Zorobabel era o governador do povo judeu que regressou do exílio. Ele foi o grande instrumento de Deus, junto com Neemias e Esdras. Para o reconfortar Deus mandou lhe dizer que para a obra ser feita não precisava de força, nem de violência, mas o grande articular, sustentador e feitor de tudo seria o Espírito do Senhor. Quando Deus está no controle dos humildes começos, até quem normalmente os despreza, são contagiados pelo trabalhar de Deus.   

A mensagem de Zacarias se tornou de extrema importância, pois recomeçar nunca foi fácil quando se carrega no coração apenas imagens do passado. Lembranças do que era, do que estava pronto, da grandiosidade que possuía, do trabalho e esforços desprendidos para se realizar o que era e hoje não é mais… Quando impera em nosso coração apenas lembranças do que foi, a apatia e ociosidade nos abraçam, levando-nos a render diante de nossa própria covardia. Mas a palavra do Senhor nos recomenda a não desprezarmos os pequenos e humildes começos. É preciso não desprezar, pois no processo de construção tanto é importante o primeiro passo como o último, tanta a primeira pedra (a pedra fundamental) como a derradeira.

Nestes dias compactos em que estamos vivendo, onde tudo se faz rapidamente, quase não dá pra perceber a escala dos processos construtivos. A automatização tomou conta, reduzindo os caminhos antes percorridos. Quase não se percebe e não se entende cada passo dado rumo à consumação de qualquer projeto. Mas precisamos compreender que nada de grandioso se faz da noite para o dia. Deus sempre valoriza os passos dados. Em Marcos 4.28  Jesus disse: “A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga”.  Vemos nesta passagem o desencadear de um processo que começa com algo que poderia ser facilmente ignorado que é a erva. Mas a aparência das formas iniciais pode iludir com sua simplicidade, impotência, feiura e inexpressividade.

Iniciei apresentando a história do povo judeu na época de Zacarias e Zorobabel, e agora desejo encerrar, relembrando com você a história de Israel na época de um outro profeta: Elias. Deus o usou para enviar juízo sobre a nação de Israel, e ele orou com instância; e por três anos e seis meses não choveu. A situação espiritual do povo era abominável. A idolatria imperava com o consentimento da realeza. Quase todos estavam servindo aos Baalins e Baal. No terceiro ano da seca e fome, Deus disse a Elias para se apresentar perante o rei Acabe. Elias foi, propôs o grande duelo no monte Carmelo, onde Deus provou que somente Ele é o Senhor, enviando fogo sobre o altar, e como consequência, o juízo de Deus veio sobre os profetas de Baal. Elias os exterminou. Depois de tudo isto, finalmente Deus aplacou sua ira e enviou chuva sobre a terra, porém Elias teve que interceder ao Senhor mais uma vez. 1Reis 18: 42-45 narra o que aconteceu. Leiamos:

“Então, disse Elias a Acabe: Sobe, come e bebe, porque já se ouve ruído de abundante chuva. Subiu Acabe a comer e a beber; Elias, porém, subiu ao cimo do Carmelo, e, encurvado para a terra, meteu o rosto entre os joelhos, e disse ao seu moço: Sobe e olha para o lado do mar. Ele subiu, olhou e disse: Não há nada. Então, lhe disse Elias: Volta. E assim por sete vezes. À sétima vez disse: Eis que se levanta do mar uma nuvem pequena como a palma da mão do homem. Então, disse ele: Sobe e dize a Acabe: Aparelha o teu carro e desce, para que a chuva não te detenha. Dentro em pouco, os céus se enegreceram, com nuvens e vento, e caiu grande chuva. Acabe subiu ao carro e foi para Jezreel”.

Quando o servo de Elias lhe disse que não via nada no horizonte, por certo, ele ficou apreensivo. Pediu então para que ele fosse e voltasse por sete vezes. O ritual de fé começou e na sétima vez ele relatou ao seu senhor que vira uma pequena nuvem… O milagre de Deus estava começando. As águas desceram sobre a terra, tendo tudo acontecido com o principiar da “pequena nuvem como a palma da mão de um homem”. Se Elias não fosse homem de visão descartaria o relato do seu servo. O que era uma nuvem pequena diante da necessidade de uma chuva aguardada por mais de três anos? Somente a fé no Deus que manda não desprezar os pequenos começos seria capaz de gerar a convicção de que o que era pequeno em grande se transformaria, e o milagre aconteceria.

Assim foi com Elias, assim foi com Zorobabel, assim foi com alguns dos milagres de Jesus, como o milagre da multiplicação dos cinco pães e dois peixinhos para uma multidão de cerca de cinco mil homens, além das mulheres e crianças (Mt 14.21). Se tudo isto aconteceu com eles, também pode acontecer com cada um de nós. Nosso Senhor também nos recomenda a sermos fiéis no pouco, pois em assim sendo, sobre “o muito”, Ele nos colocará (Mt25.21). Pensemos em todas as situações pequenas que hoje constituem nossa vida em crescimento. Consideremos como reflexão final nossa atitude diante dessas situações. Se não há fidelidade, valorização e gratidão diante do que pensamos ser pouco ou pequeno, algo em nós tem-se perdido pelo caminho. A hora de refazermos o caminho é agora. Comecemos!

Celso Melo
Ipatinga / MG

 

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2 Comentários

  • Fran disse:

    Ótimo conteúdo! Repostei em uma postagem que eu fiz no meu instagram… Está de parabéns!!!

    1. Celso Melo disse:

      Deus abençoe grandemente sua família. Sim! Deus está por trás dos pequenos começos, e sabemos que tudo que Ele começa, também revoluciona… Grato pela leitura!

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