Uma conversa franca sobre o pecado

Tempo de leitura: 4 min

Escrito por Celso Melo


A dor do pecado é sempre maior do que seu prazer. A angústia que dele decorre é maior do que sua efêmera satisfação. A força que se faz para resisti-lo é menor do que o peso da culpa, e sua consequente agonia de morte… Digo morte porque a perda da alegria da comunhão com o Pai é como a morte, afinal nEle nos movemos, existimos e vivemos (At 17.28). Esta agonia de morte, da perda da comunhão é tão peculiar ao pecado que traz consigo a sensação do abandono de Deus do qual nem mesmo nosso salvador ficou isento. Conquanto não tivesse pecado, a palavra nos diz que Ele se fez pecado em nosso lugar, e por consequência na cruz exclamou: “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste.

A realidade do que é o pecado deve estar clara para o cristão. Temos de nos desiludirmos dele. Por exemplo: quanto tempo dura o seu prazer? A satisfação de ter gritado e xingado alguém que nos feriu… quando tempo dura? A euforia provocada pelas bebidas e as drogas… quando tempo dura? O prazer da sedução… quanto tempo dura? Pensemos a respeito. Quanto tempo dura essas coisas? Todas as nossas decisões, ações e atitudes tem efeitos imediatos, efeitos a médio e a longo prazo. Há efeitos que além de percorrer essa linha de consequências, ecoarão também na eternidade, e somente quando lá estivermos, descobriremos em se deram… Em relação ao pecado, o seu efeito imediato pode não ser a sensação de culpa, desgosto e tristeza, mas depois os seus males indubitavelmente se manifestarão. Aqui está uma lei tão certa quanto certa é a lei da gravidade. Não há como manipulá-la ou dela escapar. Há alguém que praticou algo contra a luz de sua consciência, e conseguiu se livrar das consequências? 

A sensação que temos, quando diante da tentação, é de que conseguiremos estender ao máximo o seu prazer. A situação pecaminosa é vivenciada de tal forma que o prazer se torna nosso sentido de vida naquele momento. A sua compulsão em nós é tão esmagadora que resistir parece ser tarefa inconcebível. Mas, “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” – pergunta o profeta. Conhecer o próprio coração é um processo, mas é necessário. Paulo nos recomenda que devemos examinar a nós mesmos (1Co 11.28). Somente aqueles que examinam o próprio coração conhecem suas faltas pessoais e é capaz de ser tolerante com os erros, defeitos e limites do seu próximo. Essa não é uma tarefa para meninos. Mas para homens e mulheres com consciências amadurecidas no evangelho. Não é tarefa fácil; afinal, mesmo ao examinar o próprio coração, o fazemos a partir dos olhos do nosso próprio entendimento. Penso que foi com esta preocupação, ou seja, diante da possibilidade do autoengano que Davi exclamou diante do Senhor: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Expurga-me tu das que me são ocultas” (Sl 19.12).

Não quero fazer apologia do pecado, mas reconheço que as lições dele só se aprendem (com a devida gravidade) na prática. Somente aqueles que se sabem como grandes pecadores, conseguem enxergar a sua enorme dependência de Deus. Novamente Davi nos é extremamente útil. No Sl 130 exclamou: “Das profundezas a ti clamo, ó Senhor”.Já no Sl 88.6 foi mais incisivo: “Puseste-me no abismo mais profundo, em trevas e nas profundezas”.

Como é o nosso coração? Um jardim florido, uma terra de paz ou de guerra? Davi pode enxergar as profundezas e as trevas interiores que o habitavam, e é o nosso exemplo. Não devemos nos iludir: o caminho da perfeição é contínuo, vitórias alcançadas não exclui a necessidade da vigilância contínua, e a experiência não deve gerar automatismos de conduta em nós, como se toda circunstância fosse igual a outra.

Pensemos no apóstolo Paulo. Como o imaginamos? Esse grande servo do Senhor que escreveu a maior parte do novo testamento foi um gigante na fé. Será que via a si mesmo como um santo? Sempre me impressionei com as cartas de Paulo, e com alguns versículos em particular. Um dos que mais tem marcado minha caminhada está em 1Tm1.15: “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Aqui está um servo, depois de vários anos de caminhada, escrevendo uma de suas últimas cartas, plenamente consciente de sua condição de pecador. Chega ser paradoxal pensar que à medida que os anos passam, e a caminhada acontece, a consciência do pecado aumenta, mas é exatamente isso que se dá quando nos aproximamos da luz de Deus. Quanto mais luz, mas explícito fica o que diante dela se expõe. Assim, a comunhão com Deus sempre há de produzir no homem revelação pessoal, auto consciência, e a certeza de que suas aparentes justiças não passam de “trapos de imundícia”. Somente diante dessa luz se vê as “imundícias da carne e do espírito, e se aperfeiçoa a santificação no temor de Deus”(2Co 7.1).

Indagamos muito a respeito de um fato comum na vida de algumas pessoas: por vezes, vemos que aqueles que se deram efusivamente à prática do pecado, e caminharam por caminhos demasiadamente tenebrosos, quando encontram com Jesus, e se deixam transformar por Ele, frequentemente são pessoas grandemente usadas pelo Espírito, o qual lhes confia a administração de vários dons. Quem nunca ouviu um testemunho de um ex-bruxo, um ex- presidiário, ex-drogado, ex-traficante e tantos outros. Sempre pensava sobre essas aparentes “coincidências”, quando Deus me levou a compreender que tal fato normalmente se dá em função dessas pessoas reconhecerem a enorme carência e dependência que têm da comunhão com Deus; e praticarem a comunhão com disciplina e severidade. A consciência da carência é tão grande quanto for a consciência de quão pecador se é. E então? Vamos pensar seriamente sobre o pecado?

Celso Melo

Você vai gostar também:

Para enviar seu comentário, preencha os campos abaixo:

Deixe um comentário


*


*


4 Comentários

  • Luzinete conceição Braga disse:

    Que nosso Grande de Deus e Jesus Cristo te abençoe grandemente, Obrigada pelas boas palavras.

    1. Celso Melo disse:

      Amem, estamos juntos em um só Espírito, uma só fé e esperança.

  • Marina disse:

    Maravilhosa essa reflexão,que Deus te abençoe sempre mais,te dando cada dia mais sabedoria

    1. Celso Melo disse:

      Oi tia! Que alegria tê-la por aqui. Saudades! Suas experiências de fé me marcaram bastante. Que Deus continue te abençoando também.

  • Damos valor à sua privacidade

    Nós e os nossos parceiros armazenamos ou acedemos a informações dos dispositivos, tais como cookies, e processamos dados pessoais, tais como identificadores exclusivos e informações padrão enviadas pelos dispositivos, para as finalidades descritas abaixo. Poderá clicar para consentir o processamento por nossa parte e pela parte dos nossos parceiros para tais finalidades. Em alternativa, poderá clicar para recusar o consentimento, ou aceder a informações mais pormenorizadas e alterar as suas preferências antes de dar consentimento. As suas preferências serão aplicadas apenas a este website.

    Cookies estritamente necessários

    Estes cookies são necessários para que o website funcione e não podem ser desligados nos nossos sistemas. Normalmente, eles só são configurados em resposta a ações levadas a cabo por si e que correspondem a uma solicitação de serviços, tais como definir as suas preferências de privacidade, iniciar sessão ou preencher formulários. Pode configurar o seu navegador para bloquear ou alertá-lo(a) sobre esses cookies, mas algumas partes do website não funcionarão. Estes cookies não armazenam qualquer informação pessoal identificável.

    Cookies de desempenho

    Estes cookies permitem-nos contar visitas e fontes de tráfego, para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website. Eles ajudam-nos a saber quais são as páginas mais e menos populares e a ver como os visitantes se movimentam pelo website. Todas as informações recolhidas por estes cookies são agregadas e, por conseguinte, anónimas. Se não permitir estes cookies, não saberemos quando visitou o nosso site.

    Cookies de funcionalidade

    Estes cookies permitem que o site forneça uma funcionalidade e personalização melhoradas. Podem ser estabelecidos por nós ou por fornecedores externos cujos serviços adicionámos às nossas páginas. Se não permitir estes cookies algumas destas funcionalidades, ou mesmo todas, podem não atuar corretamente.

    Cookies de publicidade

    Estes cookies podem ser estabelecidos através do nosso site pelos nossos parceiros de publicidade. Podem ser usados por essas empresas para construir um perfil sobre os seus interesses e mostrar-lhe anúncios relevantes em outros websites. Eles não armazenam diretamente informações pessoais, mas são baseados na identificação exclusiva do seu navegador e dispositivo de internet. Se não permitir estes cookies, terá menos publicidade direcionada.

    Visite as nossas páginas de Políticas de privacidade e Termos e condições.