“Será que eu tenho algum dom?”

Tempo de leitura: 5 min

Escrito por Celso Melo

Quando o assunto é dom, potencial, atividades artísticas ou mesmo – habilidades técnicas profissionais – muitos se perguntam: “Qual é o meu dom?”. Às vezes, fazem a pergunta de forma negativa e duvidosa: “Será que tenho algum dom?”.

Vejo que as pessoas (e aqui também me incluo) se comportam basicamente de três maneiras no que tange a dons, potencial, propósito e realização. Antes de listar essas três maneiras, ressalto que todos os termos que usei acima estão interligados e convergem para a manifestação de uma determinada maestria que mescla com a identidade da pessoa, de forma que, para ampla compreensão, eu poderia facilmente acrescentar vocábulos, como: habilidades, missão, destino, talentos, expertises.

Primeiramente, existem os que passam a vida inteira, e nunca ou quase nunca se perguntam se têm (ou não) algum potencial a manifestar. Simplesmente cumprem o script de vida humana comum: nascer, crescer, trabalhar, procriar (deixar sua semente…rs) e morrer. Síntese triste, mas real! Tais pessoas não se preocupam com anseios, sonhos, habilidades, propósito de vida, potencial, realização, legado; enfim, esses vocábulos não compõem sequer o pensar dessas pessoas. Quando ouvem falar de indivíduos bem sucedidos, habilidosos, geniais e criativos, dizem que, quanto a si mesmos, não tiveram chance, sorte ou oportunidades de crescimento.

Se você que agora me lê, se sente identificado com a vida dessas pessoas, saiba que desejo imensamente que esse pequeno texto, não somente faça cócegas em você, mas que se transforme numa espada a perfurar seu comodismo e tocar no seu apático coração. Meu Deus! Que é isso escritor? Sim, você tem que receber o impacto do que é ter o coração vazio por nada realizar e nada contribuir para que através de sua vida, o nome do seu criador venha ver glorificado.

Em segundo lugar, há aqueles que, em dado momento de suas vidas, reconheceram em si mesmos alguma habilidade, fizeram alguma obra portentosa, alcançaram o reconhecimento de algumas pessoas, mas não avançaram além do sucesso inicial que tiveram. Lembre-se sempre: o dom se estagna por falta de uso e disciplina.

Neles, se cumpre o princípio do poço: quando não se tira sua água, ela não se renova; o poço perde seu vigor e seca. Tais indivíduos se conformaram por estar posicionados levemente acima da média. Aqui reside também a ilusão do sucesso inicial, como alertou certo escritor: “Cuidado para que seu mais recente sucesso não se torne seu pior inimigo”.

Por fim, há o time dos vencedores: aqueles que pescaram o cardume de suas habilidades, maximizam o potencial (reconhecido) através da disciplina, dedicação e trabalho; e por fim, impactaram o mundo com seus feitos. A motivação deles era interna o tempo todo. Fizeram de seus dons, recursos e habilidades uma forma de realização pessoal e de dar resposta ao próprio criador – fonte de todos os dons, habilidades e afeições naturais. Note que eu disse todos, afinal Tiago escreveu: “​Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1:17).

É importante enfatizar “todos dons” para que ninguém despreze o que recebeu; e consequentemente aborte seu propósito à semelhança do que fez aquele servo que enterrou seu talento (Mt 25.25). Mas seria isso possível hoje em dia? Perfeitamente possível, principalmente se, ao exercitar o seu dom e chamado, ele for desprezado pelo seu ambiente imediato de convivência. Os exemplos são inúmeros, começando por ambiente familiar, escolar ou mesmo o ambiente de algumas igrejas.

Pessoalmente, venho de uma cultura religiosa na qual somente dois dons e caminhos de propósito eram valorizados. Assim, ou se tinha um chamado para a Palavra ou, para o louvor e adoração. Havia também a prevalência de irmãs cantoras e jovens pregadores. Até a inversão desses dons, causava uma certa estranheza, embora fosse aceito.

Mas, e Deus? O que o autor de todo dom perfeito pensa sobre isso? Bom, aquele que chamou Bezalel e Aoliabe pelos seus próprios nomes (Ex 31 1-11), certamente nos tem outra história para contar. Leiamos o texto:

Disse mais o SENHOR a Moisés: ​Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, ​e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, ​para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, ​para lapidação de pedras de engaste, para entalho de madeira, para toda sorte de lavores. ​Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã; e dei habilidade a todos os homens hábeis, para que me façam tudo o que tenho ordenado (Êxodo 31:1-6).

Não vemos no texto acima, um chamado profético, sacerdotal ou levítico. Vemos, todavia, um chamado para o exercício de habilidades concedidas em harmonia com inteligência e conhecimento – dados pelo Criador – na área de criações e construções de artefatos manuais. Eram eram artífices – nome não estão usual hoje em dia, mas perfeitamente inteligível no mundo dos artesões, carpinteiros, engenheiros, arquitetos, desenhistas, mestre de obra etc.

Com o Deus de Bezalel e Aoliabe aprendemos que há espaço para a genialidade de poetas, escritores, músicos, médicos, professores, excelentes engenheiros, físicos, químicos, matemáticos, advogados, educadores infantis, psicólogos, legisladores, líderes comunitários, esportistas e tantos outros… Há espaço para toda sorte de pessoa que reconhece em humildade que há algo diferenciado nelas, mas que não veio simplesmente de um muito estudar ou praticar. Lembro-me de certo guitarrista que, numa entrevista, disse algo como: “Eu não crio acordes, apenas recebo inspirações. Deus é o único que cria”.

Logo no início dessa reflexão, mencionei que há três formas de se comportar no que tange a dons, potencial, propósito e realização. A forma como você se comporta, pode levá-lo a um destes três grupos: 1-indiferentes. 2-medianos. 3- vencedores ou maximizadores de talentos e propósito. Esse terceiro grupo está sempre transbordando na vida das pessoas.

Creio que a compreensão do chamado de Bezalel e Aoliabe como artífices pode ajudar muitas pessoas que nunca receberam (ou sentiram) um chamado ministerial no sentido tradicional, religioso e eclesiástico. Portanto, amado (a) do Senhor: reconheça o que Deus colocou dentro de você; e explore seu potencial com maestria. E em todo tempo, exalte ao Senhor, sua fonte de inteligência e capacitação. Na medida em que você fizer isso, as pessoas notarão e saberão o motivo do seu sucesso. No final, o nome do seu Deus será glorificado.

Celso Melo
Ipatinga / MG

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2 Comentários

  • MargareteTavares disse:

    Excelente reflexão!
    Parabéns por tamanha clareza e expressividade em seus textos.
    Cada vez que leio ou ouço suas reflexões sou impactada. Sinto o Espírito de Deus me alcançando…
    É muito bom. Deus continue te inspirando para inspirar outros.
    Obrigada,

    1. Celso Melo disse:

      Obrigado pelo carinho minha irmã! Gostaria muito que lesse também um outro texto que escrevi chamado “O Processo de conversão de sonhos”. O tempo para uma leitura rápida é de apenas 3 minutos. Certamente Deus continuará te dando muitos razões para ser grata. https://www.desenvolvimentopsi.com/o-processo-de-conversao-de-sonhos/

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