“E Ele mostrou-me o sumo sacerdote Josué,
o qual estava diante do anjo do SENHOR,
e Satanás estava à sua mão direita, para se lhe opor.
Mas o SENHOR disse a Satanás:
O SENHOR te repreenda, ó Satanás”
(Zc 3.1-2).
O cenário desta visão de Zacarias coloca-nos diante de uma cena de tribunal. Se você ler a passagem toda, verá acusado, acusador, advogado, culpa e expiação. Diante da acusação do inimigo e de todos os que se deixam usar por ele, esses mesmos que gostam de exacerbar a culpa, o melhor a fazer é ficar calado. Temos de exercitar a todo instante a consciência de quem somos; e certamente – advogado de nós mesmos – não somos. Há outro que advoga nossa causa, o qual nos conhece, não como somos conhecidos pelos nossos acusadores, mas Ele nos conhece na base, estrutura e essência do nosso ser. É perante Ele que um dia teremos de nos apresentar, como diz-nos a sua Palavra: “Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal” (1Co 5.10).
A postura do sumo sacerdote Josué descrita pelo profeta Zacarias é ainda a mais indicada em tempos de culpa, dor e pecado. A repreensão e purificação pertencem ao senhor. Portanto, ao único que pode nos limpar, e trocar nossas vestes sujas, devem se dirigir nosso choro, confissão, motivações íntimas e causas imediatas do nosso pecar, conforme Ele mesmo nos recomenda: “Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim e dos teus pecados não me lembro. Desperta-me a memória; entremos juntos em juízo; apresenta as tuas razões, para que possas justificar-te” (Isaías 43.25,26).
Satanás sempre quis desacreditar os filhos de Deus. Foi assim com o patriarca Jó, o sumo sacerdote Josué e é assim também comigo e você. Em apocalipse ele é chamado de acusador (Ap 12.10), e a ele se assemelham todos que também agem dessa maneira. O fariseu de Lucas 18 listava suas virtudes e ações diante do Senhor; e simultaneamente acusava o publicano. Ignorava que agindo assim, entrava pelo caminho da demonização do ser e desvirtude, pois – virtudes – aquele que as tem, bem sabe que as tem em Deus, portanto nada tem do que se orgulhar, pois nada tem que não lhe foi dado. Somente Deus á a fonte de toda bondade. É dele que procedem “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito”. Somente Ele é a luz verdadeira, em quem não há mudança nem sombra de variação. Ao contrário disso, o ser humano está sempre mudando, sempre há nele variação e sombras, densas sombras…
Conhecer a verdade da imprevisibilidade humana é fundamental para crescer na maturidade cristã, no conhecimento e amor de Deus. Sempre que alguém começa a trilhar o caminho da fé, inevitavelmente Deus levará este indivíduo a experimentar este conhecimento. Não estou falando de se adquirir um conhecimento bíblico temático sobre o pecado do homem, mas sim experimentar no convívio diário a realidade de que o homem é falho, e o único realmente fiel é o Senhor Deus. Isto é necessário pra que nos desiludamos dos nossos ídolos humanos, quer sejam amigos, parentes, irmãos na fé ou líderes espirituais. Pessoalmente, tive que experimentar tal realidade. Lembro-me de ter escrito na época o poema “A queda das referências” no qual eu expunha meu lamento por um irmão, um grande líder espiritual. Quando o indivíduo experimenta a infidelidade humana, reconhece que o único digno de toda confiança é o Senhor. É na relação com Ele que devemos ocupar o nosso tempo.
Outra razão desta didática de Deus é para que você, em conhecendo o seu próximo, e vendo-o como ser humano imperfeito que é, reconheça a si mesmo. Quando temos a total consciência de que somos falhos como aquele cuja falha agora é exposta, cabe a nós não julgá-lo, mas fazer o que nos manda a palavra: “Se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado” Gálatas 6.1. Quando a Bíblia nos fala que enganoso é o coração humano, e desesperadamente corrupto (Jeremias 17.9), encerra nesta sentença, não simplesmente um grupinho, mas todos os homens.
Não estou advogando contra as relações de amizades; antes devemos cultivar o amor fraternal entre os irmãos. Mas precisamos entender que todos somos falhos e carecemos que Deus seja o elo mais forte nas relações que temos uns com os outros. Somente assim praticaremos e buscaremos o perdão, e não deixaremos nossa fé ser abalada quando alguém querido nos decepcionar. Ajudaremos as pessoas sem atentar para a recompensa que possamos obter, sabendo que o nosso galardoador é Deus.
Tive que aprender como qualquer outro na caminhada: Aprender apanhando. Tive erros expostos, e testemunhei o inimigo usar de pessoas para trazer-me acusações e propagar notícias de fracasso sobre mim. Diante destes quadros de acusação, freqüentemente eu fazia o que somente hoje eu sei que normalmente não resolve nada, que é defender-se. E aqui vai minha lição aprendida: Nunca tente defender a si mesmo na força da carne, afinal “a ira do homem não opera a justiça divina” (Tiago 1.20).
Realmente, em tempos de culpa, dor e pecado a postura do sumo sacerdote Josué é ainda a mais indicada. Devemos nela nos inspirar, sabendo que temos outro que advoga nossa causa. “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis: e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo (1Jo2.1-2).
Celso Melo,
Ipatinga / MG
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