“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16).
O escritor aos hebreus nos convida a irmos confiadamente ao trono da graça. Isto fala da nossa necessidade perene de oração e de postura na própria oração, ou seja, é preciso orar com confiança. Achegar junto ao trono da graça também é ter intimidade com Deus, adorá-lo, temê-lo e praticar a consciência dele no nosso viver diário, em genuína devoção e vigilância. A razão para isto é: “a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”.
Gosto de ver estas palavras perto uma da outra: Graça e misericórdia. A misericórdia do Senhor é a causa de não sermos consumidos. Através de sua misericórdia não recebemos o mal que justamente merecemos, havendo sempre um atenuante que poupa-nos da justa medida que corresponde à intensidade de nossas falhas. A misericórdia de Deus, portanto, é recebida na desproporcionalidade de sua disciplina para conosco, e sua graça, nós a encontramos nele pelas suas ações de bondade constantes em nossa vida. Não há, entretanto, qualificações para recebê-la como se pudéssemos pelos nossos próprios esforços atrair o olhar divino. O que nos dignifica é sermos achados em Cristo, afinal somos aceitos no amado, no seu santo filho Jesus (Ef 1.6).
Se o que nos dignifica é sermos achados em Cristo, qual seria ou quais seriam os caminhos e passos para tal posicionamento? A única coisa que nos é requerido é estarmos junto ao trono da graça, afinal por mais que Deus dispense seus dons, é preciso querer recebê-los através de um posicionamento em fé nEle. Prosseguindo, o escritor diz que graça e misericórdia são para ocasiões oportunas. Em outros termos, é na hora da batalha espiritual, na hora das necessidades materiais, na hora das enfermidades e da dor, da luta contra o desemprego, das ansiedades, da perseguição, do aperto existencial, da tristeza e até mesmo na hora da tentação, quando o convite ao pecado se faz presente. Estes são os momentos que para nós formam a ocasião oportuna na qual queremos e precisamos da misericórdia e graça do Senhor.
A ocasião oportuna todos nós facilmente a discernirmos, entretanto como somos habituados a buscar o Senhor somente quando ela chega, não conseguimos captar a mensagem que nos manda achegar confiadamente junto ao trono da graça antes da batalha. Esta é a mensagem do escritor aos hebreus que possui a seguinte sequência presente-futuro: “Acheguemo-nos” é algo para o presente, e ocasião oportuna – algo imprevisível e que nos remete ao “amanhã”.
A bíblia é repleta de exemplos reais que nos conduzem à percepção de que no mundo espiritual a estrutura da vitória é garantida antes da batalha e dos tempos de crise. Os sete anos de recessão e escassez que ocorreu na terra, mas que não foi problema para o povo do Egito é um exemplo a considerar. A história foi marcada pelo sonho de Faraó e a interpretação de José. As vacas e as espigas gordas representavam o tempo de bonança e tranqüilidade, enquanto as vacas e as espigas magras indicavam a crise que viria depois… O que foi feito? Sabemos que embora a escassez tenha abraçado os povos e nações vizinhas, o povo egípcio conseguiu vitória neste tempo de crise por ter agido com prudência nos tempos de tranquilidade e bonança. A vitória não veio por ações implementadas na crise, mas pela postura e ações administrativas tomadas no tempo de paz. Para isto, a liderança de José foi determinante.
Um outro exemplo extraordinário de como a batalha é vencida ‘antes’ dela é a batalha de Judá contra Moabe e Amon narrada no segundo livro das crônicas capitulo vinte. Quando o rei Josafá soube que os filhos de Moabe e Amon estavam vindo fazer guerra contra ele, a bíblia diz que ele temeu. Sua ação seguinte foi orar e convocar o povo. Esclareceu a situação, apregoou um jejum, e todo o Judá “estava de pé diante do Senhor”. Então, no meio da reunião algo sobrenatural aconteceu: O Espírito do Senhor se apoderou de um profeta que proclamou que aquela batalha não era deles, e que nela não teriam que lutar. Com efeito, os principais instrumentos de Judá estavam na mão dos levitas: Alaúdes, harpas e trombetas. Deus deu vitória ao povo através de sua busca e louvor a Ele.
A mensagem que fica para cada um de nós é um convite para que se busque o Senhor no tempo chamado hoje. O desespero açoita a todos que são surpreendidos pela batalha, e que para ela encontram-se despreparados, sem comunhão com Deus. O tempo de buscar o Senhor é o dia de hoje, pois a batalha pode surgir a qualquer momento. “Buscai o Senhor enquanto se pode achar”, diz o profeta.
Celso Melo
Ipatinga/ MG
Deixe um comentário